Drug

18/10/2020

Há quem diga que é uma batalha perdida, droga já virou sinônimo de medicamento na língua portuguesa, e acredito que na linguagem falada isso seja verdade.

Mas aqui estamos falando da linguagem escrita, da produção de textos médicos e científicos.

No século XIX, o médico inglês Sir Thomas Clifford Albert (1836-1925) já alertava que "Na linguagem científica, o ideal é nunca usar duas palavras para exprimir a mesma coisa, nem dar o mesmo nome a duas coisas diferentes." (grifo meu.)

Isto é um dos fundamentos da ciência: a ciência precisa ser inequívoca, portanto sua transmissão e comunicação devem ser claras

Não pode haver margem de dúvida

Não pode haver ambiguidade

Não pode haver duplo sentido.

Sem contar que uma das acepções mais comuns de droga na língua falada é muito pejorativa, por exemplo, "esse jornal é um droga". 

Não me parece apropriado usar uma expressão pejorativa para os recursos terapêuticos da medicina, aquilo que cura as doenças — ou as controla, e melhora a qualidade de vida das pessoas.

Além da extensa sinonímia para medicamento disponível na língua portuguesa (substância, princípio ativo, fármaco, medicação, preparado, ingrediente, remédio — para os leigos, etc.), a principal razão para não usar "droga" como sinônimo de medicamento é o fato de duas especialidades médicas usarem droga na sua acepção original (estupefaciente, entorpecente, alucinógeno, narcótico, tóxico, excitante, estimulante, etc.): a psiquiatria no tratamento da dependência química e a toxicologia clínica.

Como disse deliciosa e pertinentemente Ariano Suassuna neste vídeo "... a língua portuguesa é o meu material de trabalho; se eu gasto um adjetivo como genial pro Ximbinha, o que é que eu vou dizer de Beethoven?" (grifo meu).

Então, por analogia, se gastarmos o termo droga para antibióticos, vasopressores, anti-hipertensivos, antineoplásicos, etc., o que vamos dizer da maconha, da heroína, da cocaína e do crack?