Investigator

23/01/2020

Termo muito utilizado nos ensaios clínicos, é comum o tradutor traduzir como "investigador". Não é propriamente um erro de tradução, mas é um erro crasso de localização.

No Brasil tradicionalmente médico é pesquisador e policial é investigador. Aliás, esses são os nomes oficiais que as instituições dão a essas profissões: o Dr. Fulano é Pesquisador da Universidade XYZ, o Beltrano é Investigador da Delegacia 123.

É fundamental que a tradução assegure a qualidade de uma comunicação nativa, fluente, como se o texto tivesse sido escrito originalmente em português. 

Para ilustrar, vou contar um caso real, ocorrido no sul do Brasil há alguns anos: houve uma reunião de "Investigadores Principais"* promovida por uma empresa patrocinadora de ensaios clínicos. A reunião acabou em um jantar de confraternização em um bom restaurante da cidade. Ao término do jantar, na hora do café, o Maître gentilmente perguntou: "Os senhores detetives desejam mais alguma coisa?" 

Esse Maître merece um prêmio de compreensão cultural: ele "traduziu" aquilo se se entende por "investigador" no Brasil: detetive ou policial. 

Em ciência se faz pesquisa e, portanto, a tradução correta neste contexto é "pesquisador". Naturalmente existe na medicina a prática da investigação, como a investigação diagnóstica, a investigação da doença, a investigação dos sintomas do paciente. Mas a investigação se dá no contexto de uma pesquisa médica.

Haja vista o nome das instituições regulamentadoras da profissão: Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, Comitê de Ética em Pesquisa, além do nome da atividade ser Pesquisa Clínica e as universidades concederem bolsa de pesquisa, etc. 

Ou seja, o "investigator" em ensaios clínicos é o pesquisador


*Será feita uma postagem só sobre esse equivocadíssimo título.