Differential diagnosis

08/09/2020


Parece evidente que differential diagnosis é traduzido em português como diagnóstico diferencial, mas na sua utilização essa evidência acaba desaparecendo.

Explico.

Mas primeiro preciso contextualizar para o tradutor o que é "fazer um diagnóstico" para o médico.

Nós dispomos de técnicas de propedêutica armada e desarmada bastante precisas e com alto grau de acerto para chegar ao diagnóstico, etapa fundamental do atendimento médico, visto que é o que irá determinar a sua sequência: se há necessidade de acompanhamento e/ou tratamento e, se houver, qual é o tratamento indicado*.

As etapas do diagnóstico, resumidamente são:

  • Anamnese completa ou direcionada, conforme indicação (durante a qual o médico obtém as informações que levarão à suspeita do diagnóstico)
  • Exame físico completo ou direcionado, conforme indicação (neste momento o médico verifica se o exame corrobora ou não a sua suspeita diagnóstica, ou traz novos elementos abrindo o leque do diagnóstico diferencial)

Na maioria dos casos o médico consegue chegar ao diagnóstico utilizando somente essas duas etapas. 

Algumas vezes, para fins de confirmaçãoembasamento, registro ou pesquisa, o médico pode pedir exames complementares (que complementam o diagnóstico já firmado ou a suspeita diagnóstica (o inglês chama de diagnostic studies, o que induz o tradutor a erro. O exame não faz o diagnóstico, o médico faz o diagnóstico; o exame traz informações complementares, confirmando ou não o diagnóstico já feito ou aventado pelo médico).

Mas existem casos de maior complexidade diagnóstica nos quais a anamnese e o exame físico deixam o médico com um leque de diagnósticos diferenciais, ou seja, um número n de síndromes passíveis de explicar as alterações patológicas que o paciente está apresentando.

O diagnóstico diferencial é uma técnica investigativa precisa, na qual o médico sistematiza os achados das alterações observadas na anamnese e no exame físico, os compara e, por eliminação, chega ao diagnóstico identificando a doença do paciente.

Para isso, pode ser necessário fazer exames complementares de maior complexidade ou em maior quantidade e pedir parecer de especialistas

O refinamento das informações obtidas através da propedêutica armada e dos eventuais pareceres de especialistas vai estreitando o leque dos diagnósticos diferenciais até chegar ao diagnóstico final - ou o médico firmar o diagnóstico do paciente.

É aí que reside o perigo para o tradutor: muitas vezes ele vai traduzir literalmente distinguir, discriminar, diferir, discernir, separar ou tantos outros sinônimos de diferenciar que, embora possam ser até melhores do ponto de vista literário, não se referem à técnica especifica usada do diagnóstico diferencial. Eis onde a evidência desaparece.

A linguagem técnica pode ser repetitiva, ela não pode ser equívoca. O mais importante em um texto técnico, médico, científico é a sua clareza e a sua exatidão

Se der pra ficar bonito, melhor, mas se não der, paciência. 

Precisa ser inequívoco.

*A medicina indica ou faz indicação: indica tratamentos, indica alta hospitalar, indica cirurgias, indica encaminhamentos, indica pedidos de parecer, indica suspensão do tratamento, etc. e tal. O verbo é sempre indicar. Ao pedir por escrito o parecer a um colega, a frase final é sempre "solicito indicação e conduta" - termos fundamentais a serem assimilados pelo tradutor.